RESENHA - "Vulnerabilidade dos públicos frente a práticas abusivas de comunicação empregadas por organizações: limitações para o monitoramento civil"



            Em nosso último post trouxemos o conceito de astroturfing e algumas ilustrações sobre essa prática. Aproveitamos o tema para fazer uma resenha do texto que nos levou a escrever aquele post, "Vulnerabilidade dos públicos frente a práticas abusivas de comunicação empregadas por organizações: limitações para o monitoramento civil".


A relação estabelecida entre organizações e sociedade vai muito além da mera oferta e consumo de bens e serviços. Uma vez que as corporações são partes integrantes da vida social de forma tão profunda e fundamental, estas também possuem responsabilidades em relação ao bem estar da população e à manutenção de práticas consideradas corretas - é o que chamamos de responsabilidade social. Entretanto, é de conhecimento geral que, muitas vezes, as práticas organizacionais não são adequadas aos valores éticos esperados pelos públicos, devido, entre outros fatores, ao fato de estes princípios constituírem um entrave para que a organização alcance os seus objetivos internos.
Contudo, com o desenvolvimento e ampliação do uso dos meios de comunicação, os públicos adquiriram um maior poder de vigilância sobre as práticas comunicacionais das organizações, uma vez que institui-se uma maior possibilidade de mobilização pública e um espaço de cobrança e pressionamento das corporações e entidades públicas no sentido de fiscalizar as práticas comunicacionais corporativas.
Diante desta maior mobilização dos públicos na vigilância das organizações, outra questão surge: o fato de que “a atuação dos públicos não se encontra livre de constrangimentos, havendo diversas barreiras e desafios que impõem limites aos esforços civis” (HENRIQUES, SILVA, 2014, p.2). É sobre esta questão que trata o artigo “Vulnerabilidade dos públicos frente a práticas abusivas de comunicação empregadas por organizações: limitações para o monitoramento civil”, em que os autores Márcio Simeone Henriques e Daniel Reis Silva discutem os “desafios enfrentados para monitorar as práticas de comunicação abusivas empregadas pelas organizações” (HENRIQUES, SILVA, 2014, p.2).
Os autores ressaltam a vulnerabilidade dos públicos frente às práticas comunicativas das organizações, uma vez que estas encontram diversas formas de burlar ou dificultar a observação civil e até mesmo a vigilância das instituições públicas e da imprensa - entidades que, junto à comunidade civil, também desempenhariam, a princípio, o papel de monitoramento das práticas corporativas. Henriques e Silva se voltam para uma estratégia comunicativa específica, o astroturfing, a fim de exemplificar de forma mais concreta os entraves que se impõem à população no processo de vigilância da comunicação das organizações. O astroturfing é uma prática comunicativa que consiste na simulação de um público, ou seja, na manifestação de um público fictício.
O artigo traz reflexões acerca das potenciais limitações do público civil na descoberta de abusos cometidos pelas corporações. Alguns dos desafios são:
  • Os públicos não possuem capacitação suficiente para competir contra sistemas especializados em práticas comunicativas e de persuasão. Também é importante pontuar que, diante do maior monitoramento do público, as organizações não necessariamente cessam as práticas comunicacionais abusivas; pelo contrário, complexificam estas práticas a fim de que elas sejam cada vez menos suspeitas.
  • Muitas destas práticas são ambíguas e, portanto, difíceis de serem enquadradas como criminosas ou anti-éticas. Este entrave nos propõe uma problematização: o que configura uma prática de comunicação abusiva? A ambiguidade de certas ações de caráter duvidoso permite que, muitas vezes, estas se safem de fiscalizações.
  • Apesar da maior possibilidade de mobilização civil através da Internet, nem todas as reivindicações obtêm visibilidade e/ou credibilidade no ambiente virtual.
Estas são apenas algumas das reflexões propostas no artigo em questão para se pensar sobre as limitações no processo de vigilância das práticas comunicacionais das organizações. Os autores concluem que estas práticas são “difíceis de serem apreendidas, dotadas de aspectos que geram constrangimentos e desafios para os públicos que tentam ocupar uma posição de monitoramento” (HENRIQUES, SILVA, 2014, p.14). Através do exemplo do astroturfing, Henriques e Silva demonstram a complexidade destas práticas e a consequente vulnerabilidade dos públicos frente a estas.

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