Astroturfing: o que é e alguns exemplos


Astroturfing é um termo da comunicação organizacional que se refere à “prática que consiste na criação de uma manifestação de um público simulado, [...] como uma estratégia para influenciar a opinião pública.” (HERNRIQUES; SILVA, 2014) É quando uma organização faz parecer que há um endosso popular e espontâneo a alguma causa, produto, ideia, serviço ou pessoa. Para isso, pode-se usar personalidades influentes, posts em redes sociais, cartas, dados oficais, comerciais televisivos e uma infinidade de meios, desde que, pareça uma ação orgânica, sem revelar que foi patrocinada.
A expressão astroturfing passou a ser utilizada quando, em 1985, o senador estadunidense do partido democrata do Texas, Lloyd Bensten, ao comentar sobre inúmeras cartas que havia recebido, de supostos cidadãos, que defendiam a mesma posição que seguradoras enquanto Lloyd estava envolvido em um debate sobre benefícios de seguros de vida; disse um texano sabe diferenciar grassroots de AstroTurf.
O senador aludia à grama artificial AstroTurf, em oposição à grassroots que significa raízes de grama e é um termo usando nos EUA para se referir a movimentos populares. Assim, ele afirmava que as cartas que recebera, com conteúdo semelhante, eram criadas para simular um apoio popular, coincidentemente, às mesmas reivindicações das seguradoras.
A AstroTurf é uma grama extremamente similar às gramas naturais que foi criada e desenvolvida em 1965 pela empresa de defensivos agrícolas Monsanto, e foi amplamente usada na cobertura de campos de beisebol nos Estados Unidos.




A fim de ilustrar a prática do astroturfing, podemos usar práticas controversas da criadora da Astroturf. A Monsanto é, hoje, uma das maiores empresas agrárias do mundo, com sedes em mais de 50 países e produtos vendidos em mais de 160. A empresa sempre esteve cercada de polêmicas, desde seu envolvimento no Projeto Manhattan até a criação e distribuição do herbicida RoundUp.
Em março deste ano, uma corte judicial divulgadou diversos documentos com dúvidas sobre a segurança e práticas de pesquisa de outro produto da empresa, o herbicida RoundUp. Esses documentos também indiciam que a organização falsificou pesquisas sobre o principal composto do produto, o glifosfato. Os documentos foram divulgados após o início de uma ação coletiva contra a Monsanto, de um grupo de pessoas que alegam terem desenvolvido tumores nos linfócitos por exposição ao glifosfato.



Herbicida RoundUp (Embalagem nos EUA e no Brasil, respectivamente)


A Monsanto, segundo esses e-mails, teria recrutado pesquisadores não ligados à empresa para co-assinar trabalhos defendendo a segurança do uso do químico. Assim, pretendia-se “desmentir” estudos feitos no ano anterior pela Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer que apresentavam em seus resultados o glifosfato como um possível agente cancerígeno, e conseguir uma renovação para a comercialização do RoundUp na União Européia. A corporação não revelou que esses trabalhos foram feitos a seu pedido, fazendo-os passar por pesquisas isentas e que não visavam um resultado que a colocasse em bom ângulo diante a sociedade.
Atualmente as práticas de astroturfing são cada vez mais comuns e difíceis de identificar, com um grande número de meios para tal e de pessoas influentes que podem ser contratadas para mascarar um patrocínio, principalmente nas redes sociais.


Anúncio de compra de visualizações para vídeos no Youtube


São conhecidos casos de youtubers e instagramers que recomendam um determinado produto sem identificar que o faz por uma relação comercial. Há também casos de pessoas e grupos que alteram o número de curtidas em uma página ou publicação, ou o número de players numa música ou vídeo, fazendo parecer que aquele conteúdo é consumido e apreciado por um público maior do que realmente é. E muitas vezes, esse aumento de números, é permitido e incentivado pelas próprias plataformas de divulgação, como no Facebook e no Instagram.

Fontes e para saber mais:

HENRIQUES, Márcio Simeone; SILVA, Daniel Reis. VULNERABILIDADE DOS PÚBLICOS FRENTE A PRÁTICAS ABUSIVAS DE COMUNICAÇÂO EMPREGADAS POR ORGANIZAÇÕES: limitações para o monitoramento civil. 2014










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