Os altos e baixos de uma organização sob o viés comunicacional

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Todos que já trabalharam ou trabalham em uma organização - seja esta uma empresa, ONG, um órgão governamental, entre tantas outras possibilidades - sabem que nem tudo são boas experiências, mas também existem os momentos bons, que são motivações para acreditar naquela corporação.
Mas de que forma podemos analisar esses bons e maus momentos no contexto organizacional a partir do viés da comunicação? É isso o que tentaremos neste post, a partir do relato de uma pessoa que está inserida em uma organização.
Priscila Mattos é uma assistente social que trabalha na obra social São José. A partir de seu depoimento sobre experiências vivenciadas na organização em questão, poderemos refletir sobre a influência e importância das práticas comunicativas no contexto organizacional.
A Obra Social São José - comunidade Dandara foi criada tendo em vista a ocupação urbana existente na região, que não possuía nenhum equipamento público que a auxiliasse. O padre Flávio conheceu um pouco sobre a ocupação e todo o seu movimento e, a partir disso, idealizou uma obra social voltada prioritariamente para essa comunidade - pessoas em situação de vulnerabilidade social e econômica. O projeto, que existe desde 2012, é voltado para a demanda dessa comunidade, que manifestou o que desejaria aprender - informática, música, etc.

1) Conte um pouco sobre seu trabalho na obra social
.Eu sou responsável pelos projetos sociais da obra. Elaboro, monitoro e avalio todos os serviços que acontecem lá: serviços administrativos, da própria assistência social, tudo relacionado às obras sociais sou eu que sou responsável. Na obra, nós ministramos aulas de música, informática, com projetos de geração de renda para as pessoas que estão nessa comunidade, projetos voltados para as crianças e adolescentes relacionados à arte, ética e moral, todas essas coisas.

2) Você acha que a organização onde trabalha tem uma comunicação interna satisfatória?
Ela é satisfatória. Na obra, todo trabalho é discutido entre a equipe, não há nada que passe por mim que não tenha que passar pela equipe, porque nós temos um assistente social e os educadores sociais, além do coordenador. Tudo o que acontece é passado para o coordenador e para os educadores, porque são eles que estão na “ponta”, são eles que recebem as crianças, adolescentes e adultos, eles trabalham na linha de frente com essas pessoas. Então não tem como fazer os projetos sem que eles participem, porque quem vai falar o que dá certo e o que não dá são eles.

3) E quanto a comunicação com os públicos externos da organização? É eficaz?
No nosso trabalho, costumamos falar que a gente tem que trabalhar em redes. O que é a rede? é a saúde, a educação, a Justiça, o Conselho Tutelar… O que chega pra mim que eu não tenho meios para fazer, eu tenho que encaminhar para o setor responsável. Por exemplo, violência contra a criança: se o direito dessa criança foi violado, o meu papel é acionar os órgãos responsáveis. E às vezes isso é  muito difícil. A política de assistência é muito voltada para o trabalho em redes e nós temos uma grande dificuldade com isso, porque lá onde a gente trabalha é um lugar extremamente vulnerável, é uma ocupação urbana, a comunidade é muito grande, não temos equipamentos suficientes que atendam a comunidade toda, e a gente tem uma grande dificuldade de procurar essas redes. Não são todas mas, sempre que a gente precisa, é muito complicado de achar, porque um passa pra outro. “Ah, não é nesse setor, ah, não é esse que vai atender”. E a gente sabe que, em se tratando de criança e adolescente, eles são o público prioritário, então tem que ser uma coisa de emergência, tem que ser rápido. E às vezes a gente não consegue isso.

4. O que você acha que poderia melhorar na questão das práticas comunicativas no contexto da obra social?
Nossa, muita coisa pode ser melhorada lá. A gente pode fazer muito mais coisas, mas não depende só da gente. Por exemplo: esse projeto não está dando certo, precisamos arranjar um profissional para poder lidar com essas crianças. Porque crianças e adolescentes sempre querem mais, coisas diferenciadas, coisas da atualidade. E pra gente fazer um projeto novo, criar outras coisas, precisa da autorização do coordenador e isso fica um pouco a desejar, porque às vezes é difícil ter essa comunicação com ele, pois ele tem muitas coisas para resolver.
5. Você, como funcionária da obra, sente que tem voz nas tomadas de decisão dentro da organização?
Eu posso ter uma decisão, mas eu tenho que recorrer ao coordenador. Tudo o que eu for decidir, tudo o que eu converso com os educadores sociais tem que ser repassado para o responsável maior. E pode ser que, às vezes, o que eu quero não seja realizado, pois não esteja ao alcance da instituição, em termos de questões burocráticas, por exemplo.

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